terça-feira, 1 de maio de 2007

Design vs. Reconhecimento: uma necessidade!

Já não é de hoje que rolam discussões em todas as listas de designers e estudantes: o tal do reconhecimento 'oficial' da profissão.

Cada vez mais eu vejo que não basta simplesmente o reconhecimento por parte da legislação, se o próprio mercado desconhece a profissão e o papel do designer dentro do do contexto econômico e porque não dizer da sociedade.

A relevância do reconhecimento do mercado é pra lá de importante e é ela quem vai definir se um dia nós, os designers - principalmente os que são formados na área, que enfrentaram 4 anos de batalha e muito estudo, seremos reconhecidos como categoria profissional. Podemos enumerar alguns dos principais fatores que impedem que a profissão de designer não seja reconhecida:

1) Designer não é técnico de software

É difícil para o mercado, sobretudo para os 'contratantes', entender que designer não é aquele que sabe tudo de determinado software, mas sim quem aplica uma vasta gama de conhecimentos visando resolver um problema específico para o qual foi teoricamente chamado a resolver. Sim, designer existe para resolver problemas que sejam de ordem visual, técnica, funcional, e não somente aquele que "foi contratado para fazer formas bonitas e arrojadas". Lógico que atualmente se faz praticamente tudo no computador. Mas a máquina deve ser encarada apenas como ferramenta de trabalho, e nunca como fonte de idéias.

Designer não cuida só do visual: o conteúdo também é importante! Tá certo que o designer também tem que "fazer bonito", mas seu trabalho não se resume a isto.

Exemplos clásicos que podem ser vistos desde anúncios de emprego a exigência em concurso público:

DESIGNER GRÁFICO JR - Com curso Técnico ou Tecnólogo em Mecânica ou
Mecatrônica, mínimo 01 ano de experiência como Designer Gráfico,
conhecimento de mecânica, elétrica e hidráulica. Experiência em
editoração, elaborar catálogos de peças, manuais de instruções,
folder, banners, layouts, curso de Corel Draw avançado.


Esse é só um exemplo, que tenho certeza de que nem preciso marcar os absurdos do anúncio. O que é mesmo que eles querem?

2) Arquitetos

Sim, os arquitetos têm sua parcela de culpa. Mas a responsabilidade pela grande quantidade de arquitetos que se apresenta como designer também é nossa, de quem se formou em design. Afinal de contas, eles apenas estão ocupando uma lacuna existente no mercado. Alias, tenho certeza que com o aval desta categoria e do CREA, quem os representa, a regulamentação da profissão de designer nunca sairá. Curiosamente, cheguei a ouvir absurdos do tipo (infelizmente não tenho a fonte) que o CREA tem até um certo interesse sobre a regulamentação, principalmente porque poderíamos ser obrigados a ter vínculo com esta representação. Mas como todos os arquitetos-designers estão do lado deles, a regulamentação não vai sair nunca. Isso porque o texto da proposta de regulamentação que vem tramitando há anos no Congresso Nacional colocaria como pré-requisito a formação em Desenho Industrial. Então...

3)Guerra de egos e falta de engajamento

Tá, a culpa é nossa também, por não divulgar, por não correr atrás, mas principalmente por se preocupar mais em denegrir o trabalho alheio do que pensar como categoria, como fazem os médicos, principalmente.

A guerra dos egos é burra, pois desune a "categoria" e impede que todos possamos brigar tanto pela regulamentação como pelos direitos com ela adquiridos. Acima de tudo, o designer não faz o trabalho pra ele mesmo, nem pro cliente, na maioria dos casos como deve ser, mas pro "cliente do cliente".

4)Desconhecimento da causa própria

Grande problema: vender TV de plasma para deficientes visuais. É mais ou menos assim que vejo o que os designers - formados ou que estão na faculdade, conhecem da sua profissão. Como vou vender meu trabalho se nem ao menos sei como vender e o que ele significa?

Está aberta a temporada de caça aos achismos! É isso mesmo! Todo mundo "acha" o que é design...inclusive os próprios designers! Assim não tem como a profissão ser reconhecida nunca! Pergunte a um médico o que é ser médico, ou pergunte a um arquiteto o que é ser arquiteto?

Trocando em miúdos: não adianta lutar por reconhecimento se eu nem sei direito definir o que eu faço!

Exemplo?



Quem quer reconhecimento não pode aceitar que uma turma de 5º período de design gráfico dê resposta do tipo "Ah, design...é maneiro", ou ainda "É desenho" ou a pérola "É pra quem tem paciência".

Realmente, haja paciência!

5)Culto ao plágio e conformismo

Para mim enquanto designer, não existe qualquer problema em tendêcias ou estilos. O problema está exatamente no exemplo "fulano fez bonito, vou copiar o layout". Realmente, se o designer é incapaz de criar algo que atenda as expectativas no trabalho, não pode mesmo ter o discernimento de entender o que é estilo, e não como copia-lo. Isso que chamo de culto ao plágio, e é o que se pratica no mercado. Daí também vem o conformismo: se dá certo pra fulano, se vende, porque não faze-lo?

E é esse culto ao plágio e conformismo que cria os monstros micreiros, que cada vez mais dominam o mercado. E qual a relação desse título do tópico com regulamentação? Total! Por que vou querer que seja regulamentada uma profissão que não precisa de faculdade, que só exige o conhecimento de softwares?

Simples né?! Vou à escola XYZ, faço um curso que me transforme em "design gráfico" e tá beleza! Me igualo a milhares, ganho salários dos quais reclamarei a vida toda e, se meus templates baixados na internet via e-mule não estiverem mais na moda, perco o emprego pra outro. Afinal, o mercado tá cheio de 'iguais', não é?!

Estes são apenas alguns dos tópicos dos quais acho relevantes, pois neles e a partir deles podem (e poderiam) ser criados outros mais específicos ainda pra ilustrar minha opinião. Mas sei que coloquei a "essência".

Resumindo todos estes tópicos, o leitor vai me dizer "Marcelo, profissão reconhecida, impostos, burocracia... tá maluco? Não, não estou doido. Pagar impostos é muito "menos grave" do que o de estudar para resolver um problema de um cliente, o que é a grande questão do meu trabalho, comparando com a concorrência de um....micreiro! Sei que nesses casos, atualmente, a concorrência se ganha pelo "talento", mas não concordo que as coisas sejam levadas desta forma.

Afinal, o que é ideal? Uma marca que vai ser reformulada quase todo ano e vai ser esquecida ou uma marca que evolui (diferente de mudar) e vai ser fixada? E quem tem mais condições para planejar e projetar? Joãozinho do Corel Draw? Sei não hein...

O reconhecimento é importante para nivelar o mercado entre os bons profissionais e acima de tudo garantir alguns importantes direitos para os designers, dentre os quais poder participar de concorrências e concursos públicos, ter uma convenção trabalhista/de classe própria, que garanta obrigação da prática responsável da profissão e também resguarde direitos.

Esse certamente é um assunto que merecerá posts futuros e muita discussão.

3 comentários:

Professor Howdy disse...

Hello!
Very good posting.
Thank you - Have a good day!!!

Carina Machado disse...

Você disse tudo.
Sou designer formada a 5 anos, vivo triste com nossa realidade. O que me segura ainda na profissão é por que amo o que faço.
Parabéns pelo post!!!

Anônimo disse...

Marcelo, um dos melhores posts que já li falando sobre o reconhecimento da profissão.
Sou Design Gráfico a 2 anos, trabalho com Photoshop. Não sou formado, mas entendo que há uma enorme diferença entre alguém que cusou faculdade, ralou 4 anos estudando e eu. A alienação do mercado é tanta que muitas empresas nem mesmo diferenciam o Design e um Design Gráfico como eu que trabalho com Outdoors, Bannes e Homepages somente. Parabéns pelo artigo.